quarta-feira, setembro 05, 2012

livro lido, livro pensado




Você é capaz de tudo? Sabe disso? Se considera um ser do bem? 
Imagino que irá responder afirmativamente...
Quem não o faria?
Aos nossos olhos todos somos especiais, por não ver em cada um a imagem do mal, ou de atos malvados. 

Quem em sã consciência irá dizer que é capaz de grandes ou pequenas maldades?
Possivelmente saibamos das nossas nuances, porém não vejamos a nós mesmos como seres vis e possuidores do mal encapsulado...

Mas somos capazes sim, de atos não vistos com bons olhos quando advindos de outros, essencialmente se o alvo somos nós...
Somos detentores da imensa capacidade de moldar atos e fatos à nossas formas, e quando me refiro a formas, falo de circunstâncias, momentos, ciclos de vida, nos quais o meio torna a cada um "mais por sí, do que por todos"...
Geralmente isto se dá em situações de sobrevivência.
E entendemos por sobrevivência quase sempre deter a vida em nós. Entre tanto sobreviver nem sempre é caso de vida e morte, não da morte do indivíduo físico. 

Exceção expõe todas as demais circunstâncias em que o ser humano do cotidiano, aquele que divide nossa mesa de trabalho, que senta ao nosso lado na sala de um cinema, aquele que passa por nós naquela rua, se enxerga como normal e bom, fala de nós, desses seres humanos que captam o mundo como questão de sobrevivência...
E para sobreviver vale tudo, não é?

Sou sem planejar, simpatizante de escritores nórdicos, não sei bem por que me peguei percebendo meu apreço animado por obras nascidas nessas terras gélidas.

O livro A Exceção esmiúça de maneira intensa quase vívida, o dia-a-dia de um nicho humano composto maioritariamente por mulheres, lúcidas e inteligentes (ao seu modo), intelectualizadas e acima disso tudo, defensoras do bem, aquele bem que condena os massacres raciais, sócio-culturais, religiosas.

Mesmo nicho humano que dentro do seu microcosmos, abre mão por completo desse bem, quando o próprio bem se vê ameaçado, e a ameaça aqui aparece às vezes como algo infundado, como algo paranoico...


E então a descoberta é o quão violento pode ser o pensamento de vingança, de revide, de ódio, nascido nessas mesmas pessoas que condenam massacres como os vistos entre sérvios et all, em países africanos...

A trama é essa, o contra-ponto radical entre o aspecto filosófico da ética para os personagens, contra a ética pessoal quando aplicada e entendida como decisória  da própria sobrevivência...

Impressiona a maneira como se desnuda a cada personagem mostrando o tão falado "bulling" em uma outra apresentação, aquela onde colegas de trabalho se tomam o direito de cercear, massacrar ao outro... 
Sem emoções de culpa ou dúvidas de valores, mas sim manifestando completa certeza sobre ser correto tal fato, por representar a defesa do nosso espaço, seja ele mental ou físico...

E ao longo das páginas deste livro, é impossível deixar de identificar momentos das nossas vidas, situações parecidas, emoções familiares a aquelas que o autor apresenta...

Eis um  livro que li e que deixou em mim aquela sensação de presença absoluta...Que leva a lembrá-lo sempre.

No Brasil pela Editora Intrínseca.




Luciana

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